O banquete da chanfana de Séneca aos rojões de Nietzsche
-5%

O banquete da chanfana de Séneca aos rojões de Nietzsche

Loureiro, Pedro / Escritor

13,00 €
12,35 €
IVA incluido
Editorial:
Editora Urutau
Año de edición:
2022
Materia
Literatura-poesía
ISBN:
978-65-5900-311-2
Páginas:
52
Idioma:
Portugués
Encuadernación:
Rústica
Alto:
160mm
Ancho:
125mm
13,00 €
12,35 €
IVA incluido
Añadir a favoritos

«O quarto grau da poesia lírica é aquele, muito mais raro, em que o poeta, mais intelectual ainda mas igualmente imaginativo, entra em plena despersonalização. Não só sente, mas vive os estados de alma que não tem diretamente. Em grande número de casos, cairá na poesia dramática, propriamente dita, como fez Shakespeare, poeta substancialmente lírico erguido a dramático pelo espantoso grau de despersonalização que atingiu. Num ou noutro caso continuará sendo, embora dramaticamente, poeta lírico.», é isso que nos diz Fernando Pessoa em um fragmento intitulado “Os graus da poesia lírica”, e que neste livro singular de Pedro Loureiro podemos entrever, porém com uma diferença em relação ao gênero de poesia dramática tradicional, já que em muitos diálogos as personagens não podem ser previamente conhecidas, deixando-nos um espaço vago que é, afinal, a possibilidade de um campo aberto — palco onde a literatura pode ser um acontecimento. Nesse campo é gerada uma tensão pela própria impossibilidade de um saber prévio (quem afinal está falando, quem está respondendo, há alguém que podemos conhecer?) e um desconcerto muito próximo do onírico (as notas de rodapé reforçam a estranheza ao invés de elucidá-la), embora possamos suspeitar que esse onírico, no caso desses diálogos, seja apenas mais uma das inúmeras janelas do absurdo.
A escolha do diálogo para esta obra de poesia dota-a de uma amplidão de vozes na qual uma fina ironia, por vezes, deixa implícita uma capacidade de visão do poeta em relação a temas valorosos da história, da metafísica, da mitologia e da arte, não como uma discussão ensaística, mas a partir dos próprios seres que a engendraram. Giorgio Coli, em sua obra O nascimento da filosofia, aponta que «Platão inventou o diálogo como literatura, como um particular tipo de retórica escrita, que apresenta num quadro narrativo os conteúdos de discussões imaginárias a um público indiferenciado. Este novo género literário recebe do próprio Platão o novo nome de “filosofia”». No caso, a referência a um dos mais famosos diálogos do filósofo grego, O Banquete, torna explícita a referência ao gênero inaugurado por Platão, mas aqui a diferença é que Pedro Loureiro não assume a posição de um «filósofo» (um amante da sophia), mas sim a posição abandonada pelo próprio Platão: a de um poeta. Ou seja, de alguém que não se apresenta como portador do logos, mas apenas como um meio, como uma abertura que, à medida que se abre, esconde o próprio rosto.
Os diálogos deste O banquete da chanfana de Séneca aos rojões de Nietzsche não são constituídos como fios que nos conduzem a uma conclusão, como alguma verdade que pudesse ser atingida por uma ascese do discurso. Pelo contrário, a verdade dos diálogos (quando ela se propõe a existir) surge ao modo de uma revelação, tal qual um antigo oráculo (Quis o amor/Que a morte/Fosse o esquecimento) ou uma sentença da ordem dos mistérios (Aos homens resta-lhes/Uma imitação de sangue/Um desejo de regresso ao informe). Isso tudo entrecortado por momentos de pura sensorialidade como no caso de Ares & Afrodite (Se ao acordares/Eu aqui não estiver/Contenta-te com tua mão/Ou o que mais te aprouver). Com isso, afasta-se do diálogo platônico e aproxima-se da poesia dramática, tal qual em Diálogos com Leucó de Cesare Pavese, ainda que este mantivesse a presença efetiva das personagens em uma estrutura mais tradicional.
O Banquete inaugura na trajetória literária de Pedro Loureiro um novo momento, em que a voz escapa de uma escrita de si para uma região mais ampla, mais indefinida também, o que em termos de poesia é sempre um encontro, um acontecimento e uma possibilidade. Em outros termos, a dimensão de uma experiência.
Augusto Meneghin

Artículos relacionados

  • Hamsterdão e alguns desapontamentos de poesia tópica
    Portulez, Rui / Escritor
    Na declarac¸a~o de intensões — assim mesmo — com que abre Hamsterdão, e alguns desapontamentos de poesia to´pica, Rui Portulez trincha a poesia em cima de uma mesa de mistura e tempera-a com um raminho de ervas confessionais: “a meu favor/muitas canc¸o~es de amor/versos que só eu sei de cor/e pouco mais”.Para muitos, Amsterdão é aquele lugar onde se vai em busca de um café simp...
    En stock

    13,00 €12,35 €

  • Ninguém fica rica a trabalhar
    Lemos Marques, Sofia / Escritor
    Ninguém fica rica a trabalhar, o primeiro livro de poesia de Sofia Lemos Marques, nasce da necessidade descomplexada de escrever e é como se nos convidasse a nós, seus leitores, a fazer exatamente o mesmo. Ver no baixo preço das diárias um convite alargado a todos e na humidade das paredes a inutilidade da rápida construção é olhá-las para lá da sua existência simples: tudo pod...
    En stock

    13,00 €12,35 €

  • Poemas do manicômio de Mondragón (bilingüe español-portugués)
    Panero, Leopoldo María / Escritor
    Poemas do manicômio de Mondragón (1987) reúne, pela primeira vez no Brasil, um conjunto de poemas e textos escritos por Leopoldo María Panero (1948-2014) – um dos mais importantes e desafiadores poetas da literatura espanhola moderna – durante os primeiros anos de sua permanência no Hospital Psiquiátrico San Juan de Dios. Nesta edição, o leitor contará também com a publicação d...
    En stock

    14,00 €13,30 €

  • Navio
    Quintas Mendes, António / Escritor
    Na melhor tradição da atual poética em língua portuguesa, António Quintas Mendes faz pausar o tempo, ralentar a vida, cumprindo as funções máximas do poeta: baralhar sentidos, dar novo nome a velhas coisas, transformar palavras em perguntas e certezas em delírios.A relação entre Brasil e Portugal é ressignificada a partir deste Navio, nau contemporânea mensageira dos poemas do ...
    En stock

    13,00 €12,35 €

  • Mulher, Posso e Mando
    Caetano Vilalobos, Maria Caetano / Escritor
    A poesia de Maria Caetano Vilalobosgrita no papel.Não leia parada/o.Leia em movimento, voz alta,palavra entre a língua e o pé.A palavra performática de Maria implora por ação.A poeta constrói imagens como quem viaja junto,cantando no carro,observando as nuvense o cheiro dos pneus.A estrada é a sociedade,e o veículo,um corpo de mulher.Goza, treme e luta.O corpo poético de Maria ...
    En stock

    13,00 €12,35 €

  • Merdas do amor
    Rodrigues, Paulo / Escritor
    Conheço o autor há muito tempo. Não fosse ele meu pai há 20 anos. As piadas sempre lhe foram inatas e sempre fizeram parte da nossa relação, especialmente as “piadas secas”. O meu pai é super talentoso, disso não há dúvidas, desde ter-se autoensinado a tocar guitarra até a escrever textos com uma destreza impressionante.Mas nunca pensei que a sua maior paixão algum dia pudesse ...
    En stock

    13,00 €12,35 €

Otros libros del autor

  • Negro Silêncio
    Loureiro, Pedro / Escritor
    urge demoler la construcción,atrapar la casacontra la domiciliación obvia,desplegar las puertas y ventanas,suturar los sueños ...
    Consulte disponibilidad

    12,00 €11,40 €