Vieira, Hellington / Escritor
Lugares de partida, lugares almejados, lugares de pertença
Com rua nove casa vinte e um, Hellington Vieira retorna à vila operária onde viveu até os 10 anos.
Dividido em Notas Introdutórias, Primeiro Turno, Intervalo, Segundo Turno e Hora Extra, este é um livro atravessado pelo fardo do trabalho, pelas desigualdades sociais e por um quotidiano duro que, ao mesmo tempo que sufoca, alimenta sonhos e aspirações para tanta gente impossíveis de alcançar.
Numa voz melancólica, reflexiva e crítica, Vila Estrela é apresentada como um lugar de pertença, mas também de limitação. O próprio título, reforça a ideia de um quotidiano sistemático, no qual as ruas têm números como as casas e há fronteiras claras entre pobres e ricos.
Vila Estrela é o subúrbio de onde o poeta quer escapar para alcançar algo maior, mais alto e mais longe, mas também o reconhecimento de quão profundas são as raízes. As origens são um passado que carregamos para sempre às costas. O desejo de liberdade encontra na gravidade uma realidade implacável: o chão não gosta de quem sabe voar.
Mas se estes poemas denunciam expectativas sociais (como em [não nasci para escrever]), também celebram o empoderamento: o resto da vida/era o que tinha/de maior valor.
Hellington escreve em versos curtos com rimas insistentes. Os seus poemas são estruturais e secos como uma espinha limpa, mas só na aparência são simples, até porque as coisas simples da vida/não existem.
Com o avançar das páginas, na Hora Extra, a libertação territorial já não basta e mesmo ser poeta já não é desejo suficiente, é preciso ser poesia, ter uma existência que transcenda a produção, tornando-se algo maior e mais puro: a poesia como possibilidade de transcender.