Dorrico, Trudruá / Escritor
Cantar como quem dança com as vozes dos ancestrais pelos tempos afora. Dançar como quem escreve na terra as pegadas da vida indígena. Escrever como quem desenha nas pedras a letra de Makunaimî. Assim leio Trudruá Dorrico. Ela-Formiga soube fazer das formigas que passeiam pelo lavrado, que são as terras mesmas do povo Makuxi, as formigas que passeiam em preto agora neste branco de celulose e que chegarão muito mais longe e a terras tantas que até Makunaimî riria satisfeito de sua valentia.
Sony Ferseck/Wei Paasi
Em seu novo livro, a escritora, poeta e pesquisadora macuxi Trudruá Dorrico dá corpo ao que podemos chamar de literatura de retomada, ou seja, uma literatura que, assim como a retomada do território ancestral, reivindica o direito à vida, direito social, cultural, espiritual, mas também poético. Porque o mundo é feito de palavras. E a palavra indígena é na voz de Trudruá ao mesmo tempo flecha e canto, arma e cura.
Carola Saavedra
Ao conhecer seu nome ancestral, Trudruá desafia o rígido sistema de definição e nomeação ocidental e nos aponta um determinante gesto contracolonial que guia todas as trilhas abertas na mata deste livro: a retomada. Apesar das distorções, desterritorializações e rasuras que o projeto colonial tem empreendido sobre nossas vidas e formas de compreender o mundo, Trudruá, desobedece aos gigantes inventados, subverte, enfrenta e impõe, com firmeza e doçura, a necessidade de honrar e defender um nome. Seja ele o próprio, o do povo ou o nome originário de um continente. Ao reapropriar-se de seu nome, de sua palavra antiga, Trudruá reafirma também o compromisso com nossos ancestrais, com nossas lutas e com tudo que semeia por esta terra com seus passos suaves, contínuos, coletivos e, por tudo isso, grandiosos de formiga.
Ellen Lima