Súbito
-5%

Súbito

Graça, Brassalano / Escritor

13,50 €
12,83 €
IVA incluido
Editorial:
Editora Urutau
Año de edición:
2022
Materia
Literatura-poesía
ISBN:
978-65-5900-260-3
Páginas:
126
Idioma:
Portugués
Encuadernación:
Rústica
Alto:
160mm
Ancho:
125mm
13,50 €
12,83 €
IVA incluido
Añadir a favoritos

Talvez os versos demorem a fazer ricochete. Emudece-nos a sua nudez que, enquanto acontece, não nos deixa desviar o olhar. Nada temos a acrescentar. Ficamos apenas esperançosos pela coincidência feliz de alguém, carregado de outras vivências, mais ou menos duras, leia as mesmas palavras e delas saiba extrair o que lhe tocar.
Peter Handke, autor do Poema Duração, disse numa entrevista qualquer que “há uma idade para a poesia: tem de se ser muito novo e, depois, tem de se esperar… pela sabedoria e intensidade e tristeza e alegria, tudo junto”. E, depois, que a “poesia precisa não só de inocência, mas talvez de culpa e de inocência”, de ambas. Nada percebo de poesia e menos ainda de que precisará ela, abomino fórmulas (embora seja sensível a preocupações formais) e tampouco creio em idades certas para se fazer algo.
Comove-me ainda sentir o calor ou a dor por intermédio das palavras de alguém que nos dá o pulso a medir a temperatura. Temperatura essa normalmente não correspondente entre corpo e voz. Então, ao arriscado ofício de traduzir dor e beleza, seja a “tua”, da rua, ou das trevas potentes, desejo o melhor passeio que nos vai sendo calcetado à medida da leitura. Brassalano Graça intriga aqueles que pisam, ainda que de leve, as suas palavras. Sejam poéticas-radiofónicas, pela atenção e vibração que confere aos outros, pela delicadeza com que chega ao trabalho do outro, seja poéticas-escrita, desde um Facebook surpresa ao livro Súbito.
Intuo que a sua incursão na poesia em livro afasta-se do poema perfeito, que enferma algumas mentes adeptas de virtuosismos apoucados. Ferreira Gullar, autor de Poema Sujo, defende mesmo “que não existe poesia pura. A poesia verdadeira não é sectária, não é unilateral.”
A poesia de Brassalano Graça poderá ser a farinha do moinho que há anos lhe arde no peito. O lançar das cartas comprometedoras para todo o jogo. Uma poesia sensorial, entre coxas, orvalho, declive da pele, amores, carnes e música fúnebre do futuro. Onde as noites pesam de insónia e chumbo, e as lágrimas são de luz. Embora tudo esteja sobejamente adjectivado para dar saltos não estridentes de sentido, a composição não arrebata a espontaneidade. Nestes versos parece que nunca se sai de uma imagem que está sempre a abrir para novas imagens, átomos em choque, que nos vão povoando, produzem combustões — amor e conflito — é o que faz andar, creio.
Memórias antigas de cadáver da humanidade – de onde veio? qual o propósito? Unha de arranhar por dentro, extravasando os dias ponderados e fazer-nos cúmplices da sua inquietação. Uma poesia que é dança glacial de seres erráticos, que logo se derretem como barcos afundados. Uma poesia que permite inventariar possibilidades, amores, retornos a um nós mesmo com a única casa que realmente temos: esta nossa acumulação existencial. Uma poesia que convida a entrar em novas paisagens à boleia de nuvens prateadas, para chegar a cidades suspensas num domingo eterno.
Não sei se os seus poemas devidamente respiram, ou se se penduram na vertigem de brevidade, na atenção às pequenas coisas. Nada têm a ver com a atualidade, mas com as cidades libertárias, onde o jazz ecoa e a literatura acrescenta pormenores videntes. No seu poema encontro o que há “de sobrevivente no mais inóspito da realidade, no mais fundo da linguagem”. Mas não sei onde o poeta repousa a cabeça, se é que repousa, esse “clássico de dentes grandes, tortos e manchados por fumo e café”, esse “nervo desvitalizado do dente canino da civilização”. Brassalano oferenda-nos temores e deleitamentos, comparece nesta casa imunda e eternamente desarrumada que pode ser a poesia.

Marta Lança
tradutora e editora

Artículos relacionados

  • Entardece
    Martínez-Conde, Ricardo / Escritor
    A lúa pensaque todo ser amadonaceu coa noiteO mariñeiro,un camiño por facer.Lene brumaA néboa chegoue agranda o murmurio;logo esvaeráSempre deitabaesperando a marea.cerca dos soños ...
    En stock

    12,60 €11,97 €

  • La flor invisible
    Esteban de la Fuente, Ricardo / Escritor
    El cero o el infinito aparecen en este poemariosumergiéndonos en el sonido indescifrable del alma,donde la flor invisible transparenta sus secretosexhalando el aroma de su pequeño universo.Los pétalos se abren, los párpados se cierran,la aurora del poema inicia quedamente su vozexpandiendo su fulgor en silencio...Solo queda el misterio del amorcomo una llama en el aire,desnudan...
    En stock

    12,95 €12,30 €

  • Águas para te beber amor
    Arziki, Lolo / Escritor
    Quer comer chocolate, mas abomina o açúcar, assim dizem que quanto mais preto melhor. Quanto mais preto mais amargo, difícil de digerir, mas é instigante o desconforto que causa, comem suavemente na tentativa de aliviar a dureza. O de leite não é saudável, muito doce, misturamos o amargo do chocolate com café e assim satisfazemos o nosso vício, preto no preto, sólido no líquido...
    En stock

    13,00 €12,35 €

  • Sutura
    Osorio, Manuel / Escritor
    Sutura es un poemario que explora las heridas que laten bajo la superficie de lo cotidiano. A través de imágenes evocadoras —un tren que se desvanece en polvo, un poeta-cadáver con ojos vivos, islas de identidad dispersas—, este libro invita a reflexionar sobre cómo coser el desgarro entre lo real y lo imaginario.No es una cura, sino un mapa de cicatrices: cada verso, como hilo...
    En stock

    12,95 €12,30 €

  • El arcón de mis secretos
    Campo, Josefina / Escritor
    En nuestro más profundo ser, todos tenemos un lugar, un espacio, un cajón, un armario, una habitación, un trastero, un arcón, una carpeta... donde guardamos, en muchas ocasiones, trastos inservibles e inútiles con el paso del tiempo, cachivaches de todo tipo que pusimos a buen recaudo en un “por si acaso”, recuerdos entrañables que, después se nos han ido olvidando o, por el co...
    En stock

    12,95 €12,30 €

  • Versos del todo y la nada (2 vols.)
    Lorenzo, Ana Maria / Escritor
    En la esencia de los versos que nacen del todo y la nada, encontramos un susurro eterno que reverbera en la conciencia humana. El "todo" representa el vasto universo y su infinita complejidad, una totalidad en la que cada elemento forma parte de un engranaje mayor, pero cuya magnitud escapa a la comprensión absoluta. Es el ser, la creación, el movimiento y la interconexión. Es ...
    En stock

    22,95 €21,80 €