Ruff, Lana / Escritor
É como estivéssemos em viagem. Para perto ou longe, num tempo presente ou passado, chegando e partindo entre paisagens e emoções. Lana Ruff propõe, em seu segundo livro de poesia, cabras, que façamos o trajeto pelas partes do corpo fÃsico de um animal-humano-não humano, e que depois seja feita meia-volta pelo mesmo trajeto, desta vez por uma espécie de corpo espiritual ou emocional.
Como quem escuta um bom disco de vinil, a obra nos convida a apreciar um balir de cabra repetidas vezes e em dois lados. O Lado A — pra dentro e pra cima — narra em cinco partes um movimento de internalização de si, de adensamento e aterragem do corpo, de crescimento do ser. O Lado B — pra fora e pra baixo — espelha e completa o arco narrativo, revelando em outras cinco partes o resultado das tentativas que a cabra faz para esvaziar-se e simplificar a sua apreensão de mundo: o regresso ao pasto.
Nessa construção poética, as palavras – escolhidas a dedo e colhidas do pé – aparecem com profundidade mas também com o bom humor de quem brinca de se encaixar. Onde isso talvez seja mais evidente é em cada um dos mini poemas que inauguram cada capÃtulo, costurados de forma intrincada e divertida para refletir (literalmente) seu capÃtulo correspondente no lado oposto.