de Andrade, Mário / Escritor
Reivindicar a ancestralidade da espiritualidade indÃgena significa anunciar a quem desconhece, especialmente quem colonizou e seus herdeiros, que os espÃritos, os nossos avôs, permanecem vivos apesar de terem sido exaustivamente esvaziados e/ou deturpados de suas formas, culturas e povos. A fortuna cri´tica modernista brasileira redundou sobre o processo criativo de Ma´rio de Andrade, apagando as origens indi´genas sem nenhum compromisso com os povos ao qual a bricolagem aconteceu. Conhecer o movimento de Literatura Indi´gena Contemporânea; a manifestac¸a~o de Makunaimã na literatura indÃgena com representações que consideram seu pertencimento e sua complexidade; a fortuna cri´tica brasileira que reforçou e reforça o apagamento da propriedade espiritual e intelectual indÃgena via metodologia da exclusa~o é o que busco mostrar neste posfácio.
É importante que, em reedições de obras canônicas, editoras e o sistema crÃtico em que tais livros circulam, no Brasil e aqui em Portugal, observem que tais obras, nem mesmo esta, não são ingênuas, neutras ou traduzem apenas a mentalidade de seu tempo, mas que justamente sua circulação, seu tratamento e a crÃtica que delas derivam têm conseque^ncias reais e negativas para os sujeitos e os povos indi´genas no tempo presente. Por isso proponho o estudo concomitante e urgente da Literatura Indi´gena Contempora^nea de modo comparado com o ca^none litera´rio brasileiro, ou seja, esta leitura de MacunaÃma não pode se dar de forma isolada ou ignorando a autoria indÃgena das netas e netos de Makunaimã.
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Trudruá Dorrico